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CAMPO & CIDADE

Agenda Verde

Agenda verde, eis um tema instigante. Em Davos (Suíça) não saiu dos holofotes. Parece óbvio - todos concordam -, porém, urgem medidas efetivas de ordenação ambiental sob pena de o efeito estufa precipitar as mudanças climáticas. Dramáticas, sejamos claro. O quociente de C02 presente na atmosfera quase duplicou partir da revolução industrial (1750). De 280 saltou para 417,9 ppm (parte por milhão) nos dias atuais. Eis aí o dilema, espécie da espada de Dâmocles pairando sobre a humanidade. E mais: sobre a fauna e a flora silvestres, comprometendo os ecossistemas marinhos e terrestres. Há quem aponte a superpopulação humana como um fator determinante. Até pode, mas fica evidente que os processos industriais e, especialmente, o processamento e o consumo massivo de matéria prima contribuíram e contribui sobremaneira. E polêmicas não faltam. Sempre com muito calor e pouca luz, sejamos realistas.

É célebre assembleia dos ratos para controlar o ímpeto carnívoro do gato. Drama de caserna. Em assembleia concluíram que solução seria escalar um sino no pescoço do felino. Qualquer badalada denunciaria sua presença dando assim um hiato de tempo para a fuga. Todos assentiram. Brilhante ideia. Mas, eis que surgiu uma variável inesperada: quem poria o sino no pescoço do bichano? Boa ideia, porém, na hora “h” rodou água abaixo.

Em relação a Agenda Verde apresenta-se situação bastante análoga. Ou seja: quem vai pôr o sino no pescoço do gato? E aí reside o principal entrave, certamente. O nó górdio. A quem recorrer nesta hora? À espada de Alexandre ou ao verbo de Demóstenes. Até o momento, nos parece que prevaleceu Demóstenes.

E não faltam vozes aos quatro cantos defendendo a necessidade premente da tomada de decisão. Fóruns, congressos, eventos e eventos.
Vídeos e vídeos. Alguns questionáveis, outros bem intencionados. Segundo Hardin (Tragédias dos Comuns), bens coletivos pela própria
natureza tendem à exaustão, pois todos julgam-se no direito de usufruí-los, falta-lhes, entretanto, o principal: a visão do todo. Ou seja,
obrigação de preservá-los. Ou por outra conservá-los. A visão sistêmica (Teoria dos sistemas de Ludwig von Bertalanffy), certamente, é elucidativa nesta hora.

Quanto à tomada de decisão, a pergunta: a quem compete bater o martelo. Governantes. Governados. Ambientalistas. Ongs. Certamente, a todos, pois o impacto dos danos é coletivo. Mudança climática à frente, e a que custo social?!

Na Escola Nacional de Administração (ENA) propaga-se que para tomar uma decisão deve-se, basicamente, recorrer a quatro ferramentas
ou métodos principais: 1) normativista (arcabouço legal, equações universais); 2) descritivista ( séries históricas) ; 3) prescritivista (receituários) ; e 3) construtivista, através da montagem de arquétipos, interagindo sempre de forma participativa. Aspiral ascendente portanto.

Sejamos realistas, em maior ou menor escala todos esses métodos têm sido adotados, e em larga escala. Alguém, contudo, com propriedade asseverou: - Não há soluções simples para problemas complexos. Parecer ser o caso.

Neste momento, agricultores europeus protestam de forma veemente contra medidas ambientais. Alegam que foram tomadas em
gabinetes fechados sem ouvi-los. Em parte, eles têm razão, pois sabemos que políticas de comando/controle - poder de polícia -, largamente empregadas mundo afora tendem a falhar. Daí a visão de sustentabilidade assentar-se no tripé: meio ambiente, desenvolvimento social e econômico - a chave de virada.

Como chegar lá, eis o desafio. Durand é claro: para algo acontecer precisamos de três condicionantes: 1) conhecimento (saber);2) habilidade (saber fazer) e atitude (querer fazer).

Fica evidente que as três condicionantes – no cenário em tela -, deixam neste momento muito desejar, especialmente quanto à saudabilidade ambiental, desejo de todos.

Castro Alves no célebre poema -“Queimada” -, expressa esse momento crucial. Diante da fúria das chamas a corça e o tigre buscam se
proteger assentados lado a lado sobre o rochedo. Algoz e vítima, estarrecidos, enfim irmanados.

Mãos à obra, portanto, a quem de boa vontade, antes que seja tarde, tarde demais. Talvez nem haja mais rochedo; ou seja: porto seguro.

Joinville, 9 de fevereiro de 2024

Onévio Zabot
Engenheiro Agrônomo

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